A divulgação científica exerce um papel fundamental para a construção de um país forte e soberano, já que tem como principal objetivo democratizar o conhecimento propiciado pelas mais diversas instituições de ensino e pesquisa.
Anualmente é entregue um prêmio, pela Sociedade Brasileira de Geologia, aos profissionais que mais se destacaram nessa importante tarefa de difundir as geociências para a população. Vemos a realização desse evento como forma de encorajar cada vez mais essa prática, porém repudiamos o nome dado a essa honraria - Prêmio Monteiro Lobato.
O escritor brasileiro que nomeia o prêmio era entusiasta da indústria petroleira do Brasil, porém esse fato não pode encobrir o caráter racista e eugenista de suas obras. Monteiro Lobato foi o responsável por escrever "O Choque das Raças", posteriormente denominada como "O Presidente Negro" onde fica evidente seus alinhamentos com essas nefastas idéias. Outros livros escritos por ele também permeiam esses ideais, como "Caçadas de Pedrinho", uma literatura voltada para o público infantil, dessa maneira na tentativa de perpetuar e normalizar esse racismo para as gerações mais novas.
Além de suas obras é de conhecimento que o escritor mantinha contato com Renato Kehl e Arthur Neiva, figuras centrais da ideologia eugenista no Brasil. Em 2011 se tornou público uma carta endereçada ao Arthur Neiva onde Monteiro Lobato lamentava a inexistência de uma Ku Klux Klan, famosa organização norte-americana de supremacistas brancos, em solo brasileiro. O Brasil foi construído pela mão e pelo sangue de pessoas negras e deve muito a esses povos, retirados de suas casas a força, trazidos em porões de navios em condições insalubres, escravizados por mais de 300 anos e que até os dias atuais sofrem as consequências desses atos desumanos, que nunca foram devidamente reparados.
Dado a esses fatos, é inaceitável, em um país como o Brasil, onde a sua maioria populacional é negra, termos um título endereçado a divulgadoras e divulgadores científicos, que recebe o nome de Monteiro Lobato, um homem que defendia ideias eugenistas.
Tal prêmio poderia resgatar a memória de Maria da Glória, uma das primeiras professoras negras da Universidade Federal da Bahia, onde também trabalhou com projetos de extensão e fez com que estudantes negros se reconhecessem como futuros professores.
26/06/2021
Executiva Nacional dos Estudantes de Geologia
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